segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A Máscara Invicta_ Quarta Parte


         A Máscara Invicta

IV Parte.
Por Eduardo Motta.
        Um tenso nevoeiro cobrira tudo. Era impossível enxergar a poucos metros à frente. No entanto, o homem não se incomodava com nada daquilo. Tudo estava na mais completa paz. A voz da criatura na sua cabeça havia desaparecido. A única coisa que restara era a dor, mas não ali.
        O homem sabia que em algum lugar seu corpo era consumido por uma dor lacerante, mas não ali entre as brumas. Ali ele apenas caminhava, ou voava. Não sabia ao certo. Contudo, algo acontecera. As imagens eram vivas em sua mente. Em algum lugar uma batalha aconteceu, podia se ainda sentir o cheiro de sangue. Os gritos ainda reverberavam em sua cabeça, embora muito distantes. Sim. Com o auxílio da memória era possível ver os olhos da criatura a espreitar um grupo de caçadores que adentraram a floresta. “_O que procuravam ali?” Pensava. A muito já não havia o que caçar. Todos os animais se foram. Um completo silêncio que apenas a respiração do incauto grupo se insistia em se fazer ouvida.
        Não havia caça alguma isso era certo. Então qual o motivo daquilo? “Não se vagam impunimente por aquelas florestas”, já deviam saber. O símbolo dourado do dragão se agitava a mais leve lufada de vento, como um sinal funesto.
        E lá estavam todos eles. Uns dez ao todo. Não eram estranhos ao homem, mormente o mais jovem, que fora em outros tempos, seu amigo. Mas foi há tanto tempo, em uma época que não havia tanto sangue, tanta dor. Era um tempo feliz.
        “_Morte a todos!” Bradou a criatura.
        “_Não.”Implorava o homem, mas sabia a inutilidade daquela súplica.
        “_Matarei todos os seus antigos amigos e por último, o jovem duque. O que me diz?”
        “_Não!!!” Gritava o homem proferindo várias implicações, tudo vão.
        Um horrível grito percorreu a mata. A fera se atirou sobre um dos atentos caçadores. Debalde tentaram socorrê-lo, mas só ficou uma grande mancha escarlate no solo e uma massa ensanguentada que outrora fora um homem.
        A criatura era muito rápida. Era quase impossível acompanha-lo com o olhar, sobretudo por homens dominados pelo terror.
        Um a um foram tombando os homens. Cada qual compondo uma parte daquele terrível repasto. Propositalmente, o jovem duque era deixado para o final. Isso tornava o homem cada vez mais angustiado. Nada podia fazer.
        Então, quando tudo parecia sem solução, um agradável cheiro se fez sentir, algo que lembrava casa, amor e sonhos. O coração do homem se entristeceu grandemente. Agora ele estava acuado em algum canto, semelhante a uma criança indefesa. A criatura pressentiu o perigo. De alguma parte, uma figura envolta em um manto esverdeado sangue. A cabeça oculta e, no entanto um raríssimo perfume lhe indicava sua identidade.
        “_Ária”. Uma voz falou, já sem forças, o que chamou instintivamente a atenção do monstro. A criatura abandonou o jovem duque e foi de encontro da mulher que se apresentara. A fera urrou insanamente perturbando até o homem de maneira estranha e logo em seguida, precipitou-se sobre Ária.
        Ela, porém manteve-se firme. Apenas deu uns passos para trás e proferiu algumas palavras incompreensíveis e imediatamente uma fagulha brilhou entre seus dedos e tudo foi engolido por uma grande explosão. Havia chamas em toda parte enquanto o a criatura era arremessada ao longe e o homem caía junto ao solo com todo o seu corpo malferido pelas chamas. Um fogo impetuoso que penetrou até seus ossos. Toda a sensibilidade de seu corpo desapareceu enquanto o mundo ao redor se quedava numa imagem difusa. Tudo sumiu por um espaço de tempo.
        Contudo, como já era costume, a dor, os gritos e tudo aquilo que aflige o coração, sempre retornam. Num breve momento ele viu o jovem duque tombado ao solo com uma enorme ferida no peito sendo amparado por uma mulher. Ária, não a de tempos atrás, e sim uma já a muito castigada pelos anos. Alguém cujo impetuoso beijo da morte já lhe roubara o aspecto da vida.
        O homem não teve tempo para refletir muito sobre o fato, pois uma lâmina impiedosa penetrou-lhe nas costas, causando uma dor pungente. Um brilho funesto apareceu diante de seus olhos. Como um raio aquela arma cruel se projetava contra sua cabeça. Contudo, alguma coisa aconteceu. Disso o homem não guardava memoria, mas, de qualquer forma ele vagava em meio às brumas ou talvez voasse. Não sabia ao certo. A criatura havia desaparecido, mas podia sentir que em algum lugar junto ao solo, seu corpo sofria o castigo de uma dor cruel. Mas já não se importava com nada disso, uma vez que, entre as brumas nada fazia diferença mesmo.