quarta-feira, 24 de julho de 2013

A História de Stronwner

Stronwner correu em direção à vila temendo o pior. Sabia que se os elfos negros tivessem escolhido o caminho do vale estreito provavelmente se deparariam com o vilarejo. Seria um total massacre. Inevitavelmente começou a lembrar das antigas histórias da infância. Rituais macabros feitos em noites em que as duas luas estavam maiores. Um rito de morte. Um insulto à deusa.
“_Tenho que avisar a população.” Pensava enquanto corria desesperado. A lembrança de sua irmã brincando dentro do cercado próximo a cabana enchia seu coração de tristeza e angustia por pensar no pior.
Era uma noite fria e escura. Seus olhos mal conseguiam enxergar o caminho que já percorrera tantas vezes. Cada passo parecia uma eternidade. Seus olhos estavam embaçados pelas lágrimas que escorriam de seu rosto. Stronwner não sabe no que tropeçou. Quando se deu por si já estava em queda livre barranco abaixo. Seu corpo rolava e todo esforço para parar era em vão. Sua última visão foi uma pedra enorme incrustada ao solo que veio em direção ao seu rosto provocando lhe uma terrível lesão no rosto e um nocaute inevitável.
Quando acordou a luz de Álax queimava em seu rosto. A claridade do dia agredia sua visão. Foi uma fração de segundo para o pânico dominar sua mente e ele correr novamente em direção ao vilarejo. Não sabia por quanto tempo ficara desacordado, mas se agarrava aos últimos vestígios de esperança. Em vão. Quando avistou os primeiros sinais de fumaça deve certeza do inevitável destino de seu vilarejo. Começou a gritar e chorar enquanto seus pés fraquejavam. Corpos carbonizados, mutilados e visivelmente torturados formavam uma pilha no centro do vilarejo destruído. Caiu diante do que outrora fora seu lar e ali permaneceu chorando até o anoitecer. E seu pranto adentrou a noite e raiou o novo dia. 
“_Por quê? Deuses qual ofensa nós pobres camponeses poderíamos ter feito a vocês?” Questionava em voz alta.
Depois de muito chorar, levantou se e começou a andar. Andava sem rumo, a esmo. Se alimentando raramente. Sua barba se tornou espessa, seu corpo sujo. Nas ruas de Lineaton (cidade de Hellin-Odel) viveu como indigente por cinco anos até que certo dia, ao acordar ainda com a cabeça doendo por causa do excesso de bebida do dia anterior, viu um homem lhe estendendo a mão.
“_Vá se ferrar... não preciso de ajuda.” respondeu asperamente ao homem que lhe estendia a mão.
Este por sua vez, tirou o capuz que cobria parcialmente seu rosto revelando um rosto jovial e sorridente. Com cabelos dourados e olhos esmeraldas. Mas foi as orelhas pontudas que fez Stronwner relembrar do passado com desgosto.
            “Elfo desgraçado... foi tua laia que destruiu minha família.” Esbravejou golpeando em direção ao elfo que rapidamente se desvencilhou do golpe recuando para trás como que tivesse flutuado no ar. Obviamente fora os elfos negros, que em nada mais se aparentam aos elfos, que destruíram o vilarejo de Stronwner. Mas o ódio alimentado por anos entorpecia a mente de Stronwner.
            O elfo sem jamais parar de sorrir amigavelmente fez um gesto com as mãos e disse “_ Alinahar Omenoer Dalla”. Imediatamente Stronwner se acalmou e reconheceu que aquele elfo em nada se parecia com os elfos que trouxeram lhe tanta tormenta.
            _Venha irmão, Iévine viu sua dor e compadeceu de ti. Disse o elfo estendendo lhe à mão. Stronwner não sabe ao certo porque segurou a mão do elfo, mas o seguiu.
            Aquele elfo era Glorderfyn, o alto sacerdote de Iévine na ilha de Celetrion.  Stronwner aceitou ser um sacerdote de Iévine e o próprio Glorderfyn foi seu mestre. Em seu íntimo, Stronwner queria apenas ficar mais forte e ter poder para um dia vingar seu povo.
            Dezoito anos se passaram. Stronwner se tornou um grande clérigo de Iévine. Ajudou famílias que como a sua haviam vivido os terrores de um massacre. Lutou contra ordas de orcs e outras criaturas que ameaçavam a vida pacífica dos mais fracos.  Foi representante eclesiástico perante reis para a promoção da fé em Iévine e ajudou a fundar vários templos da deusa em Hellin-Odel. Os anos haviam cicatrizado sua dor. E fazer o bem aos outros curou sua alma.

            Certo dia, ao caminhar pelos bosques no raiar do dia, ouviu um grunhido melancólico que vinha de traz de uma enorme pedra. Ao averiguar o que se tratava se deparou com um elfo negro preso pela perna em uma armadilha feita para capturar ursos ou criaturas de semelhante porte. Verdade era que o elfo negro jamais conseguiria desvencilhar da armadilha sem ajuda. A criatura resmungava de dor e incomodo causado pela claridade do dia que é um verdadeiro tormento a sua espécie. Primeiro Stronwner pensou que poderia ser uma recompensa da deusa por seus anos de dedicação e que pelo menos poderia ter uma vingança simbólica. Mas ao ver aquela criatura infeliz que agora lamentava sua sorte com múrmuros chorosos percebeu que não se comprazeria com a vingança. Stronwner era um homem mudado. O elfo negro se encolheu temendo o pior quando Stronwner se aproximou. Para a surpresa da criatura Stronwner empenhava toda sua força para tirar o elfo da armadilha. O elfo arregalou os olhos sem entender mais logo começou a fazer força também e juntos conseguiram libertar a perna do elfo negro. A felicidade estampada no rosto do elfo negro era visível. De repente ele pulava de alegria ignorando a dor de sua perna. Stronwner sorriu ao ver a felicidade da criatura. O elfo sorriu e se curvou em agradecimento a Stronwner mais ao se erguer novamente seu sorriso se transformara em um grito de ira e com um punhal que trazia escondido em suas vestes golpeou Stronwner no peito perto do coração. Stronwner que fora pego de surpresa caiu ao solo e o elfo negro saiu correndo soltando gargalhados jubilosas pelo seu feito.
            Stronwner acordou com um homem lhe dando água para beber. Ele bebia com dificuldades.
            _Sabes que morrerás, não sabe? Perguntou o homem que segurava seu rosto para apoiar sua boca no gargalo do odre de água. _As lâminas dos elfos negros são envenenadas.
            _Sei... hurrrg, obrigado ir...mão. Eu...
            _Não sou seu irmão. Batalhamos com esses elfos negros a noite toda, algumas milhas daqui. Estávamos assistindo a esse infeliz se debater diante da luz, pois seria certo que morreria. Mais aí você apareceu e cometeu aquela tolice.
            Ao olhar ao redor viu outros homens igualmente vestidos. Com armaduras e capas vermelhas. Reconheceu o símbolo que ostentavam no peito. Eram sacerdotes de Bël-Teâncun.
            _Se lhe serve de consolo, nós matamos o infeliz que lhe causou tal infortúnio. Disse o homem que era alto e forte com rosto severo e cicatrizes espalhadas pelo braço.
 Aquele homem era Benranur, Grande sacerdote de Bël-Teâncun.
 _Agora percebes que tolice foi sua vida sendo devoto de uma deusa tola? O mal destruiu esse mundo e a única solução será a destruição de tudo para que possa haver um recomeço da vida onde esses males não existirão. Falava Benranur. _Agora retornas ao vazio sem nada como recompensa.
_A vida ...que vivi, as pessoas que salvei... e os sorrisos que pude ..hurrrng..verrr. O nascer de uma criança e a alegria da mãe.... O cantar dos pássaros. A força ... que adquiri quando superei ..hurrrg ...uma grande perda... irmão,...que recompensa poderia eu querer?? A vida em si é a maior... recompensa... Acabo feliz, pois tive e pude proporcionar..aarrgh.. a muitas...pesso...ass , momentos felizes.
E segurando firmemente o braço de Benranur Stronwner disse:_ Irmão... tenha fé na vida. E dito isso morreu.
Benranur ergueu o corpo de Stronwner e o levou até as portas do templo de Iévine. Lá chegando os sacerdotes de Iévine ali presentes quiseram agredir Benranur, pois acreditavam que ele era a causa dos ferimentos de Stronwner e que aquilo era apenas um grande insulto e uma batalha parecia eminente, pois os sacerdotes de Bël se prontificaram para defender o seu líder. Todavia Glorderfyn entreviu, pois era seu dom saber tudo antes que qualquer um falasse algo. Ele recolheu o corpo de Stronwner dos braços de Beranur e disse.
_Obrigado irmão. Isto foi um ato de bondade.
_Entenda como quiser. Eu apenas admiro um homem que acredita em seus ideais mesmo diante do fim. Respondeu Benranur e saiu seguido por seus homens.
Esta foi à história de Stronwner, sacerdote de Iévine. E quem o conheceu diz que ele era um bom homem. 

                                                                                                                                                                                     Fim