segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Com a face na areia.

O Comandante Sinclery observava emudeço o desenrolar do ataque. Viu em silencio quando o general Obadian Teron ordenou para que os porta-bandeiras erguessem as bandeiras de aliança. Observou enquanto o velho general Teron escolhia a dedo os homens que seriam os mensageiros. Aguardou junto com o velho enquanto os portões da grande cidade eram abertos. Quando teve espaço os suficientes para passar uma tropa da cavalaria, rapidamente invadiram a cidade. Como formigas eclodindo de um formigueiro recém destruído, os soldados avançaram deixando os poucos guardas de Shadarph atônitos e confusos.  Quando um soldado de Shadarph tentou organizar uma linha defensiva, rapidamente foi silenciado pelos arqueiros markdenos. O povo de Stavianath era um povo guerreiro. Principalmente o povo de Shadarph. Mas a maioria dos guerreiros havia partido em marcha contra Hellin-Odel acompanhando os príncipes guerreiros em busca de vingança. Na cidade só haviam ficados soldados velhos demais ou jovens sem experiência em combates.
Sinclery sabia que seria um massacre. Em várias cidades de Stavianath estavam acontecendo os mesmos ataques. Na décima quinta hora do dia. Quando Álax já brilhasse no céu, o ataque ocorreria. Ao findar da luz, quando as trevas novamente abraçassem o mundo, todas as grandes cidades de Stavianath já teriam sido subjulgadas. Ele não gostava deste plano. Era desonroso e trazia vergonha para seu povo. Também era ciente que a população de Markden, em sua grande maioria não concordava com o ataque a seus vizinhos e até pouco tempo atrás, seus aliados. Muitos foram os soldados que não aceitaram o comando do rei por terem amigos e familiares entre os Stavianathos. Mas estes foram convencidos a lutarem pelos interesses do rei sob a ameaça de serem acusados de traição caso não concordassem. O rei falara aos seus conselheiros sob a confirmação de um suposto golpe que ocorreria em Markden. Contou algo sobre um plano dos Stavianathos de dominar todos os reinos circunvizinhos. Que depois de vencerem Hellin-Odel, Markden seria o próximo reino a sofrer a ira dos Stavianathos. Era bem pouco provável que isto fosse verdade, mas como que por bruxaria, todos do conselho concordaram que esse era o melhor momento para atacar os Stavianathos e evitar que futuramente o reino de Markden fosse destruído.
Obadian parecia estar gostando de tudo aquilo. Perseguia homens em fuga e os matava com golpes de machado nas costas. Estuprava donzelas e depois as entregava a seus homens para que também compartilhassem de sua fenda recém-deflorada. Muitos eram os que possuíam sua sede de sangue e luxuria. Em sua maioria os soldados eram compostos de jovens guerreiros. Imaturos e despreocupados com o significado da honra. Em seu intimo desejava que os grandes guerreiros de Stavianath estivessem na cidade. Gostaria de ver alguns daqueles “soldados” enfrentarem uma batalha de verdade.

Sinclery ordenava aos seus homens que poupassem a vida de mulheres e crianças e também os velhos demais que não apresentavam ameaça. Mas Obadian dizia que se as crianças fossem poupadas, cresceriam com ódio no coração e os velhos de nada serviam. Dizia que as mulheres deveriam ser poupadas somente enquanto eram úteis. Por um momento questionou os métodos de Obadian, mas ao ser defrontado observou que os soldados ficariam ao lado de Obadian, pois este possuía a maior patente e seus métodos eram mais interessantes aos remendos de gente que agora enojavam Sinclery.
_Ousa me questionar rato vermelho? –Obadian falava em tom ameaçador com seus dentes amarelos á mostra e o hálito de cerveja tirando o ar de Sinclery. _Se acha mais nobre do que eu? Julgas que eu não sei comandar uma legião de soldados? Ou estás com pena destes metidos a valentes? Cadê a valentia deles agora? _Gritou alto olhando para o monte de prisioneiros amontoados na praça central.
Nesse momento soldados trouxeram à presença de Obadian o rei de Stavianath, Cronder. O rei estava acorrentado e possuía um corte na cabeça por onde o sangue não parava de escorrer.
_Ora, ora, finalmente eu tenho o privilégio de conhecer o “bravo” rei Cronder. Pois me diga rei... Onde está tua braveza?
_O que significa isto? Porque nos atacaram? Vieram até meus portões como aliados. O teu rei saberá desta desonra, cão. –Vociferou o rei Cronder, que apesar de velho, possuía uma voz que se fazia potente.
_Hahahaha! O meu rei saberá? Hahahaha... Obadian gargalhou e os soldados o seguiram nos risos.
_Estou aqui a mando do rei Keiran Dehildren, senhor das terras de markden. Que por sinal era seu amigo...-Falava Obadian enquanto desmontava seu cavalo. _ Amigo que você e seus filhinhos estavam dispostos a trair. _Chutou a face do rei Cronder que caiu ao se desequilibrar provocando um baque quando seu rosto bateu no chão.
Obadian Teron pisoteou o rosto de Cronder e o manteve com a face espremida no chão arenoso. O sangue do ferimento da cabeça se misturava com o novo corte no lábio superior do velho rei que tossia arquejando. Ao fazer menção de socorrer seu rei, um prisioneiro foi imediatamente morto por uma lança que atravessou seu peito provocando um jorro vermelho. Mulheres e crianças gritaram amedrontadas enquanto os soldados os golpeavam com o cabo das lanças ordenando-as calarem.     
_O próximo que interferir será crucificado. –Gritou um dos comandantes aos prisioneiros.
_Não faz muito tempo, Sua majestade promoveu o grande espetáculo decapitando um suposto traidor. -falava Obadian mantendo seu riso sarcástico. _Pois bem, o que “Vossa Majestade” acha de ser o protagonista do espetáculo de hoje? Homens o tragam até a praça principal.
Sinclery não sabia o que se passava no coração de Cronder, mas viu no rosto do rei a sombra do medo. Mesmo que se mantivesse em silencio, o seu corpo gritava a verdade. Estava tremendo e seus olhos estavam esbugalhados. Quando por fim abriu a boca, já com a cabeça posta sobre o pedestal foi apenas para gritar pragas e maldições. Feito um prisioneiro condenado o rei Cronder foi morto.

Cronder, o Bravo, morreu gritando maldições e com medo nos olhos. Não houve bravura em sua morte. Apenas terror e lamentações. Sua cabeça foi colocada numa estaca acima do portão oeste da cidade de Shadarph, capital do reino de Stavianath.