quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Sangue e Fogo

Durkan saiu de seu aposento seguido de Andivari e encontrou Drurkali e os dois seguidores de Andivari com mais uma nova figura distinta, o meio-elfo Guntz. Verbena estava com a espada sacada e olhava para Vladslav como quem não soubesse o que fazer. Guntz recuperava o folego enquanto que Vladslav e Drurkali olhavam um para o outro como quem está prestes a deixar as diferenças de lado para enfrentarem uma peleja maior.
Drurkali, temos que salvar o rei. Prometi a Crane e seus irmãos que cuidaria de seu pai. _Disse Durkan enrolando as correntes de combate estrategicamente eu seus braços.
Vamos com eles. Tentaremos salvar o máximo de pessoas no caminho. _Dizia Andivari a seus companheiros. _Mas estejam cientes que esta batalha já está perdida. O inimigo já adentrou os portões da cidade e a guarda foi imprudentemente desfocada quando Crane e seus irmãos reuniram os soldados para marcharem contra Hellin-Odel.
Enquanto corriam por corredores longos e sombrios, os seis ouviam gritos de dor e pavor atravessando as paredes maciças do castelo. Vez ou outra, os corredores eram iluminados por tochas que ficavam nas laterais da parede. Quando passavam correndo por elas, as sombras emitiam imagens fantasmagóricas na parede que unindo se aos gritos e gemidos vindos do outro lado, criavam um cenário dantesco.
Ao findar o corredor, depararam com o enorme salão onde outrora havia sido festejado o aniversário da falecida princesa Kathrina. Bancos de madeira estavam tombados pelo salão. Uma grande mesa de madeira havia sido tombada provavelmente para servir de proteção aos três soldados que agora jaziam cravejados por flechas. No canto esquerdo do salão uma labareda começava a se formar ao pé da cortina. Indiferente a tudo isso, um grupo de soldados abusava de uma jovem que soluçava em apuros. Dois homens a segurava pelos braços enquanto que outro, gordo de barbas ruivas e dentes amarelados, gargalhava enquanto a penetrava por trás. Sua gargalhada deu lugar a um som hediondo quando Drurkali esmagou seu crânio com um golpe de duas mãos que fez os olhos do soldado saltarem de suas órbitas. Os outros dois olharam com espanto o gigante negro surgir por trás do corpo de seu falecido companheiro de guerra, mas antes mesmo de alcançarem as suas armas, Vladslav e Andivari caíram sobre eles com fortes golpes de espada. Um teve a cabeça separada do corpo e o outro teve apenas tempo de soltar um grito de pavor que foi abafado com engasgos de sangue que fluíram de sua boca quando a espada de Andivari atravessou seu peito. Verbena retirou sua capa e entregou a assustada moça que estava com o vestido destruído.     
_Não se preocupe linda jovem. Está tudo bem agora. -Falou Guntz com a voz carregada de compaixão. _Nós vamos tirá-la daqui. Qual é seu nome?
Durkan estava encostado à quina da porta que dava para o pátio. Olhava com cuidado o ambiente hostil lá fora. Andivari se aproximou e também olhou. Soldados corriam atrás de cidadãos comuns e os matavam sem misericórdia. Os poucos que tentavam ainda criar uma resistência eram massacrados. As chamas se espalhavam pelas casas. Sangue escorria pelas ruas. Soldados montados a cavalos perseguiam cidadãos desesperados. Do outro lado do pátio a porta de um castelo se abriu. De dentro saiu um homem altivo, com uma armadura negra e ombreiras em forma de caveiras. Logo atrás dele surgiu o rei Cronder com as mãos amarradas sendo escoltado por cinco soldados com armaduras completas. As armaduras eram negras e polidas e usavam um manto branco por cima delas. O rei possuía um corte na cabeça por onde o sangue escorria sujando suas vestes de linho. Sua coroa estava na mão do primeiro soldado que saiu. Um soldado correu em uma direção e minutos depois um grupo de aproximadamente sessenta cavaleiros apareceram fazendo barulho e levantando poeira com os galopes de suas montarias. Os homens trocaram algumas palavras e logo acorrentaram o rei. Em seguida cavalgaram em direção à praça principal.
_Temos que salvá-lo. –Disse Durkan. _Estão o levando para a morte.
_Não a nada que possamos fazer Durkan. –Afirmou Andivari.
_Desde quando se tornou um covarde Andivari. É por isso que não presta lealdade a nenhum rei ou senhor? _Por isso se tornou um cavaleiro andante?
_Não seja tolo. Não podemos lutar contra um exercito inteiro.
_A morte me acompanha. E se hoje for o dia em que ela me apanhará que assim seja. –Afirmou Vladslav erguendo a espada acima da cabeça.
_Pelo menos um entre vocês possui colhões. As moças podem se esconderem se quiserem, mas eu prometi proteger o rei e é isso que farei.
_Não seja impulsivo Durkan. Você irá matar a si mesmo e a todos nós. - Manifestou Verbena.
_Meu senhor, eu creio que eles estejam certos. – Eu jurei protege-lo e é o que farei. –Falou Drurkali- Mas se formos em direção ao rei é morte certa.
De repente a jovem molestada se aproximou deles e disse:
_Por favor, salvem minhas crianças. Estávamos todos no templo de Iévine quando os soldados atacaram. Antes de me pegarem, eles violentaram outras moças e as crianças eles jogaram nos subterrâneos do templo e trancaram-nas lá dentro. A última vez que vi o templo ele estava começando a pegar fogo.
_O rei já está condenado Durkan, mas podemos salvar estas crianças.
Durkan lançou um olhar imparcial a cada um deles. Então olhou a jovem enrolada na capa de Verbena. Ela estava com hematomas no corpo e lágrimas nos olhos.
_Sabes que estas crianças podem já estarem mortas. –Afirmou.
_O rei também. –Retrucou a moça.
_Vamos. Mostre-nos o caminho.
Os sete saíram correndo beirando as paredes e aproveitando a camuflagem da fumaça. Passaram por entre becos sujos e ruas vermelhas com corpos espalhados pelo chão. Por fim estavam diante de um enorme templo, com uns vinte metros de altura. A parte lateral esquerda já estava toda dominada pelas chamas e começava a desmoronar fazendo um estrondo como um trovão.
_Entrar aí sim é morte certa. –Pestanejou Durkan.
_Por favor. Os calabouços do templo possuem um caminho que leva para fora da cidade. Temos que tentar encontrar as crianças e sair por lá. –Choramingou a moça.


_Muito conveniente de sua parte dizer isto moça. –Resmungava Durkan quando Andivari e seus amigos passaram por ele.
_Vamos. –Dizia Andivari. _É nossa melhor chance.
_Quem é o covarde agora hein?!- Provocou Guntz, o meio-elfo.
Quando entraram no salão principal sentiram o sangue ferver por causa do calor. A moça correu por entre os escombros e sumiu na fumaça. Guntz e Verbena a seguiram tampando o nariz com a palma da mão para não inalarem muita fumaça. Logo atrás deles estavam Andivari e Vladslav.
_Esperem. –gritou Durkan adentrando no aposento acompanhado de seu guarda Drurkali. –Nós também iremos.

O fogo subia pelas paredes e se espalhava pelo teto. O calor era insuportável. Um barulho ensurdecedor foi causado pelo desmoronamento de uma coluna e os sete personagens sumiram entre as chamas, fumaça e poeira.