quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O Pacto

Andivari acordou após dormir dois dias seguidos. Sua cabeça estava enfaixada e o seu olho ferido estava coberto pelas faixas o deixando com uma visão monocular. Seu peito doía e seu braço estava dormente. No seu ombro, uma dor fincava o fazendo relembrar do golpe sofrido na luta contra homens de Stavianath. Ele havia sido salvo e tratado, mas não lembrava de seus salvadores. Se deu conta que no momento da batalha estava acompanhado por Verbena e Vladislav. Levantou-se assustado buscando encontrar algum dos dois ao seu redor, mas uma forte dor na sua cabeça o fez deitar se novamente. Com a mão na cabeça tentando amenizar a dor o vulto em sua mente o fez olhar para o lado. Lá estava um homem calvo de rosto severo. Olhos verdes e profundos estudavam Andivari.
_Boa tarde cavaleiro! Finalmente acordaste. Temos muito o que conversar. Sou o general Obadian Teron. Eu e meus homens...
_. Onde estão meus amigos? -Interrompeu Andivari. _. Um jovem corpulento e uma jovem donzela. Ambos estavam comigo.
_. Não se preocupe. -Falou Teron com um olhar impaciente por ter sido interrompido. Eles estão bem. Eu garanto. Em breve vocês se encontrarão. Mas vamos falar de você. Seus ferimentos são graves. É um milagre ter aguentado até agora.
_. Não compreendo? Não me sinto tão mal assim. -Questionou Andivari.
_. Isso porque você tem sido tratado pelo meu curandeiro particular. Ele possui vasto conhecimento em medicinas alternativas. Mas esse bem-estar é passageiro. Você provavelmente perderá a visão do olho ferido e os movimentos de um braço. Seus dias de guerreiro chegaram ao vim. Justo agora que eu contava com sua ajuda nessa guerra sofrida.
_O que te faz pensar que eu tomaria parte de algum lado dessa guerra sem sentido? E que diferença faria um guerreiro a mais em seu exército. 
_. Não me tenha por um tolo Andivari. Todos os soldados te conhecem. As histórias sobre a batalha das “Areias profundas” ainda encorajam jovens a se alistarem em vários exércitos. Mas, não estou aqui para falar de seu passado. Estou aqui para falar de agora. De como você pode me ajudar a pôr um fim nessa guerra. Ainda há alguns rebeldes do povo de Stavianath oferecendo resistência. Mesmo sem nenhuma chance de vencerem. Isto só tem causado perdas desnecessárias de vidas.
_. Os seus exércitos não pareciam estarem preocupados com perdas de vidas quando atacaram de forma cruel os civis das cidades de Stavianath. Eu estava na capital general. Vi com meus próprios olhos a crueldade e covardia de seus homens. E agora que os guerreiros de Stavianath começam a oferecerem resistência você quer que eu o ajude a pacificar a situação? Acho improvável.
_. Você parece levar em grande consideração o povo de Stavianath não é mesmo? Não se esqueça que eram homens de Stavianath que atacaram você e seu amigo e quase estupraram a jovem que os acompanhava. Qual é mesmo o nome dela? Verbena, certo? -Falou Obadian com um tom de sarcasmo na voz. Minha intenção é evitar mortes desnecessárias. Os rebeldes não me ouvirão, mas, se você falar com seus líderes pessoalmente, talvez possa convencê-los a se renderem. Em troca eu providenciaria liberdade para você e seus amigos. Além de pedir ao meu curandeiro para se empenhar em sua total restauração.
_. Irei pensar. -Disse Andivari. Você mesmo disse que meus ferimentos são graves demais para que eu possa recuperar-me totalmente. E o que aconteceria com os soldados de Stavianath que se rendessem?
_. Ora homem, não há muito o que pensar. -Indignou-se Obadian Teron. – Pensa em sua amiga. No seu pupilo e em você mesmo. Os soldados de Stavianath receberam julgamentos justos. A maioria ganhará a liberdade dentro de alguns anos. O próprio rei me garantiu isto. Faça o que é certo. Salve vidas. Salve a sua própria vida.
Andivari percebia o tom de voz de Obadian Teron. Se ele não cooperasse provavelmente ele nunca sairia daquela cama. E Vladislav e Verbena provavelmente também seriam punidos. “-devo pensar no bem de todos os envolvidos”.
_. Tudo bem! -Disse Andivari por fim. _eu irei ao acampamento dos rebeldes e conversarei com eles. Desde que você me dê sua palavra de que eles não serão feridos caso se rendam.


_. Você tem minha palavra. Escolheste bem Andivari. Escolheste com sabedoria. Vou enviar meu curandeiro com instruções de fazer tudo o possível para recuperá-lo.
Obadian Teron saiu da tenda dando passos largos e um sorriso de satisfação no rosto deixando para trás um Andivari pensativo.
Logo após sua saída Vladislav e Verbena foram escoltados até a tenda onde Andivari estava. Os três amigos passaram um bom tempo conversando.
Ao passar por um ferreiro que martelava incessantemente uma barra de ferro, Obadian Teron foi surpreendido por uma voz a chama-lo.
_General? Aqui.
Ao olhar ao redor viu que um homem observava as espadas trabalhadas pelo ferreiro que parecia não os perceber.
_. Quem me chama? Oh, Lecain? Aqui?
_. Como foi a conversa com nosso guerreiro. -Quis saber Lecain ignorando o espanto do general.
_. Ocorreu tudo nos conformes. Andivari irá conversar com os rebeldes.
_Ótimo! Cuide para que os ferimentos dele piorem e que ele tenha que ser levado até minha presença. Estarei no palácio real em Anarkden.
_. Sim, senhor. Meu curandeiro tem providenciado isto.

Lecain deixou a espada que manuseava no lugar e saiu dando um rodopio em direção as tendas dos soldados. Obadian Teron ficou o observando sumir por entre as tendas enquanto que o ferreiro martelava e martelava.